Arte Crítica Pará

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Começar de novo – por Gil Vieira Costa

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Possuído pelo piedoso espírito natalino (que descanse em paz), resolvi conferir a extensa produção que chega ao público de Belém nesta mudança de anos. Produção extensa e considerável, que não pude contemplar por inteiro por falta de tempo (e de interesse). Dedico minhas confusas palavras, neste texto, ao XVIII Salão Primeiros Passos (CCBEU) e às exposições Matrizes Urbanas de Egon Pacheco (Galeria Theodoro Braga) e Performações Urbanas de Carla Evanovitch (Casa das Onze Janelas). Estas duas últimas dentro do Circuito das Artes 2009 do IAP (Instituto de Artes do Pará), apresentando o resultado das bolsas de pesquisa, experimentação e criação artística.

Mais uma vez ressalto que não me proponho a exercer a função de crítico de arte. Talvez a função de crítico do sistema da arte, ou quem sabe midiólogo (se Papai Debray assim o permitir). Se quiserem, podem me chamar até de adolescente rebelde – já que um crítico respaldado pode-se dar ao luxo de falar bem daquilo que gosta, enquanto o crítico principiante parece ter por obrigação falar mal daquilo de que não gosta, como todo bom adolescente que se preze. Não que eu não goste das exposições de arte. Não gosto é do sistema que as regulamenta.

Caso ainda não tenham visto com seus próprios olhos, no Museu Casa das Onze Janelas está a exposição Performações Urbanas, que traz registros de pedintes dos ônibus (folhetos e gravação em áudio das falas) e também um vídeo – registro de performances realizadas nos coletivos – e o dinheiro arrecadado nestas performances.

Fragmento do vídeo na exposição Performações Urbanas. Fonte: Site Novas-médias <http://novas-medias.blogspot.com&gt;

Na Galeria Theodoro Braga estava a exposição Matrizes Urbanas, onde o artista Egon Pacheco trouxe gravuras urbanas: impressão xilográfica de objetos feitos a partir de troncos, coletadas no município de Santarém (no qual o artista reside). Na mesma exposição havia um catálogo com registros fotográficos da ação Sudários, realizada no galpão do Ibama em Santarém – ação que consistiu em imprimir em tecido preto as formas da madeira ilegal apreendida no galpão, posteriormente fixando estes “sudários” no próprio galpão, como se fossem bandeiras tremulando ao vento.

Fotografia do Projeto Sudários, disponível em catálogo na exposição Matrizes Urbanas. Fonte: Jornal “Diário do Pará”, edição de 11 de dezembro de 2009.

Na galeria do CCBEU estava a XVIII edição do Salão Primeiros Passos, exposição com obras de vários artistas, das quais citarei apenas a obra “Permanente”, de Adelyze Marques (premiada com o 3º Lugar no salão), e a obra “Devaneios intracorporais”, de Pâmela Massoud.

“Permanente” consiste no registro fotográfico de uma árvore natalina: a árvore é realmente uma árvore, e os enfeites são feitos com garrafas plásticas com embalagens coloridas de produtos industrializados. Há também as próprias garrafas-enfeite, assim como o registro em áudio do proprietário e produtor da árvore falando sobre o processo. Já “Devaneios intracorporais” consiste em um vídeo, registro de uma performance na qual duas performers nuas realizam uma espécie de dança/rito sexual.

“Permanente”, no Salão Primeiros Passos. Fotografia: Gil Vieira Costa.

“Devaneios intracorporais”, no Salão Primeiros Passos. Fotografia: Gil Vieira Costa.

Descritas as exposições, pretendo traçar uma linha de raciocínio que passe por todas elas, sem me ater a juízos de valor sobre os artistas e as obras. Aliás, as quatro propostas agradam, mas não é sobre mérito estético que me proponho a refletir. É interessante notar que nas três exposições o que chega ao espaço expositivo é o registro. Em Matrizes Urbanas, Performações Urbanas, “Permanente” e “Devaneios intracorporais” há claramente o uso do registro, no espaço expositivo, como substituto para algo que só existiu fora deste espaço.

No caso da mostra de Egon Pacheco, este momento ocorre quando este traz para dentro da galeria as fotografias da intervenção Sudários, que só existiu naquele espaço definido do galpão do Ibama. Na mostra de Carla Evanovitch esta substituição se dá através do registro videográfico da performance realizada por Bruno Oliveira dentro dos coletivos, transmutado em pedinte. Na obra de Adelyze Marques acontece a substituição da árvore enfeitada pelo registro fotográfico da mesma, aliada à fala do próprio produtor da árvore. E na obra de Pâmela Massoud existe o registro videográfico da performance realizada pelas duas mulheres (uma das quais é a própria artista); o mais provável é que o objeto estético de Pâmela Massoud seja o vídeo, e não a performance, ou melhor, o vídeo é um desdobramento estético da performance.

Cada exposição traz elementos que estão além do mero registro, como as gravuras de Egon Pacheco, o dinheiro e os folhetos coletados nos ônibus de Carla Evanovitch, e as próprias garrafas enfeitadas trazidas por Adelyze Marques. Estes elementos são, de fato, a ação (e não um registro), mas não quero me deter neles. Apenas “Devaneios intracorporais” consiste somente no registro (vídeo) da ação (performance), mas devo salientar que ter duas mulheres nuas em um vídeo é quase um presente natalino para o voyeurista público de arte masculino (e talvez para o público feminino, quem sabe).

Quanto aos registros apresentados, é importante verificar qual patamar eles alcançam: são registros de obras e processos artísticos ou são as próprias obras? Aliás, Cristina Freire já analisou as relações da arte Conceitual com seu registro (como relação indispensável para a perpetuação ou sobrevivência da ideia) no livro Poéticas do processo: arte conceitual no museu. O problema é que sou ignorante o suficiente para não entender o que ela disse, ou para desconfiar do que já foi dito. Penso, logo existo; ou melhor, logo desisto. Mas como alguém já disse antes, se eu acreditar na Cristina Freire, o cogito se transforma em Cristina Freire pensa, logo Cristina Freire existe. Então prefiro existir por conta própria (e desistir idem).

Mas prossigamos. Ao ingressar nos espaços expositivos através de registros, a performance (ou a ação urbana etc.) adquire novos sentidos, processo que Claus Clüver e outros chamaram de intermidialidade (cruzamento de fronteiras entre mídias). A foto ou o vídeo não são encarados como foto ou vídeo (linguagem artística), mas sim como mídia de registro, de informação. Não estamos diante da ação, mas de um substituto, um índice, que agrega características diferenciadas. Não faço a menor ideia se isto é bom ou ruim, e nem creio que seja realmente esta a pergunta a ser feita. Mas é interessante perceber como estas ações são formatadas para caber dentro de uma lógica institucional do sistema da arte. Não sei se alguém compraria o registro no lugar da própria obra (mas acreditem, existem consumidores compulsivos de todo tipo). Entretanto, nem só de vendas sobrevive o mercado da arte (graças a Deus, ou melhor, ao neoliberalismo dos incentivos fiscais).

Ao que parece, os processos artísticos estão muito mais em voga do que os objetos artísticos. Portanto, acredito que daqui em diante veremos cada vez mais registros de obras no lugar das obras, dentro das galerias. O que é uma pena, já que seria preferível eliminar de vez toda e qualquer galeria de arte. Mas o vilão cubo branco sempre dá um jeito de proferir a última palavra, de ser o arauto da verdade estética universal.

Por outro lado, essa configuração da arte propicia a realização de cada vez mais ações fora dos territórios convencionais, o que é bastante agradável em uma perspectiva contemporânea, mesmo que através do mecenato institucional (famigeradas bolsas de pesquisa e patrocínio). O desafio para os artistas, curadores e afins, então, é trazer para dentro das galerias o registro destas ações de uma forma criativa e não-usual. Acredito que não se deve cair no lugar-comum do vídeo e da fotografia. Deve-se pensar o registro como parte da obra/processo artístico, e não como puramente veículo de informação, mídia (o que ele também é). Deve-se dar novas possibilidades de forma aos registros, já que eles são tão necessários.

Vejo que a arte contemporânea quer se desvencilhar das galerias (no mundo, ainda no século XX; em Belém, talvez no século XXII), mas não consegue abdicar do vinho do furor da prostituição da babilônica arte-instituição. A arte contemporânea quer ser urbana, que ser performance, quer ser ciberespaço, mas sempre emoldurada pelas quatro paredes institucionais. Essa mesma prostituta babilônica é aquela idolátrica, que a arte moderna tentou (em vão) se desvencilhar. Com ela se prostituíram os reis da terra. Os mercadores da terra ficaram ricos graças ao seu luxo desenfreado (Apocalipse 18). A arte-instituição contamina a todos com o vírus do poder simbólico, do qual nem o mais iconoclasta dos mártires pode escapar.

Portanto (após ter citado o latinoamericano Belchior no texto anterior, continuarei nesta tarefa de construir um grande pastiche com letras de músicas e textos bíblicos), a arte contemporânea bem poderia cantar de cabeça erguida, após um divórcio definitivo com as galerias (e partilha total dos bens):

“Começar de novo
E só contar comigo
Vai valer a pena ter amanhecido
Sem as tuas garras sempre tão seguras,
Sem o teu fantasma, sem tua moldura,
Sem tuas escoras, sem o teu domínio,
Sem tuas esporas, sem o teu fascínio…”

Seria um recomeço talvez tortuoso, mas triunfal. Diria até que traria dignidade, honra. Talvez até reduzisse o aquecimento global, a pobreza na África ou as enchentes em São Paulo. Mas, me parece, a arte contemporânea está muito mais propensa a berrar, à maneira de um Ratos de Porão:

“O sistema me engoliu, o sistema me engoliu!
Eu sou o maior filho da puta e o sistema me engoliu!
Vou cagar na sua boca já que você me engoliu,
Indigesto pra cacete, traidor, covarde e vil.
Agressivo ao extremo, vá à puta que o pariu!
Vou pegar todo o dinheiro que o sistema me engoliu.
Indigesto!”

Pobre arte contemporânea, que grita atormentada com suas dores de parto, pronta para dar à luz um Filho. Até quando, arte contemporânea, tu te deixarás embebedar pelo vinho da Babilônia, a grande prostituta? Até quando deixarás que o Dragão te devore o Filho, que há tanto tempo anseia por vir ao mundo?

Gil Vieira Costa é Mestrando em Artes (UFPA), além de idealista, romântico, moreno, alto, bonito e sensual.

Visitem:

XVIII Salão Primeiros Passos (até 13 de janeiro de 2010)
CCBEU (Tv. Padre Eutíquio).

Matrizes Urbanas, de Egon Pacheco (de 11 a 30 de dezembro de 2009)
Galeria Theodoro Braga (Gentil Bittencourt, n.º 650, subsolo do Centur).

Performações Urbanas, de Carla Evanovitch (de 15 de dezembro de 2009 a 29 de janeiro de 2010)
Laboratório das Artes – Casa das Onze Janelas (Praça Dom Frei Caetano Brandão, s/n).

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janeiro 19, 2010 at 3:45 pm

Publicado em Críticas

Oficina: Laboratório de Multimeios – Experimentações para a comunicação visual-sonora-escrita-corporal

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Programação paralela ao evento Ver-te-Belém Histórica

Oficina: Laboratório de Multimeios – Experimentações para a comunicação visual-sonora-escrita-corporal.

Coordenação: Ricardo Peixoto

Inscrições Abertas

Período: 26 a 30.01.2010 (3ª.feira a sábado), horário de 18 as 22 horas.

Local: Sede da Fotoativa

Público alvo: Estudantes de comunicação, publicidade, iniciantes em artes visuais, arte-educadores, pessoas interessadas em ampliar seus conhecimentos sobre as possibilidades experimentais da comunicação.

Vagas: 20

Valor: R$ 180,00/participante (material incluso, exceto camiseta)

Nota 1: Cada participante deverá levar uma camiseta, podendo ser nas cores branca, azul, amarela, vermelha ou cinza)

Nota 2: Os participantes deverão levar o seu próprio equipamento fotográfico (não sendo obrigatório)

Sobre a oficina:

Expansão no Processo de Criação do indivíduo utilizando a Linguagem das mídias contemporâneas como forma de conhecimento da expressão artística. Informações, conceitos, questionamentos e atitudes direcionados ao Estudo da arte.

Através de exercícios com jogos, rodas, dramatizações e técnicas de sensibilização; amplia-se o contato direto com as sensações e emoções das pessoas. Combinam-se jogos sensoriais e brincadeiras com exercícios de percepção, valorizando o aprendizado que se produz com base na vivência de situações onde a espontaneidade, a efetividade e o fazer são levados em grande importância.

Na oficina é trabalhado o aspecto do produtor como também o do observador.

Os exercícios desenvolvidos, entre outros, abordam os seguintes itens: Os canais de percepção, a transformação da expressão nas diferentes linguagens, a formação de conceitos, o pré-conceito e a intuição, a leitura de símbolos e signos, a leitura não verbal, o ritmo e o tempo psicológico, a síntese, a ocupação do espaço, a coordenação motora, a composição e o equilíbrio, a fisiologia da visão etc.

Do suporte artesanal e mecânico à tecnologia digital.

No “Laboratório de Multimeios” a linguagem visual, escrita, sonora e corporal surge com a proposta de construir, experimentar novas possibilidades de expressão. São ações criativas e inusitadas que provocam inquietações, faz pensar e projeta o coletivo conscienteinconsciente; interfere no espaço urbano-humano criando um diálogo com o eu-público.

Serão produzidos a cada dia trabalhos com o grupo participante da oficina:

  • Painéis no formato: lambe-lambe, transparência, vegetal, xeroz e colagem;
  • Pintura e impressão em camisetas;
  • Produção de um cordel visual – impresso em xerox;
  • Produção sonora de vinhetas para o blog;
  • Criação de um blog na internet;

Sobre o instrutor:

Ricardo Peixoto

Artista multimídia. Jornalista formado em comunicação social pela universidade federal da paraíba em l990. Um dos fundadores do grupo traficante de imagens na década de 90. Sócio-fundador da ensaio – primeira agência cultural da paraíba l994|2009. Coordenou projetos de pesquisa e documentação através da fundação de apoio à pesquisa e à extensão da universidade federal da paraíba e da fundação nacional de arte do ministério da cultura l989|2005. Coordena projeto de arte-educação, através da agência ensaio que utiliza a imagem como instrumento de linguagem e formação profissional em projetos sociais, na rede de ensino, universidades, fundações, instituições culturais e comunidades do país l996|2009. Fundador do movimento conspiração cultural 2004|2009.  Curador do museu da imaginação i989-2009.

Comenda cultural Ariano Suassuna câmara municipal de joão pessoa-pb 2009. Prêmio no 6ª salão nacional de fotografia pérsio galembeck-sp 2009. Prêmio no iiiº concurso nacional de fotografia de araraguara-sp 2009. Prêmio de fotografia cidade de santa maria- rs 2009|2006|i998|l997.prêmios no 4º e 3º festival de poesia encenada do sesc-pb 2008|2007. Projéteis de arte contemporânea da funarte-rj 2004. Membro da comissão de indicação do prêmio nacional de fotografia promovido pelo ministério da cultura l998. Prêmio maratona fotográfica cidade de natal-rn l997. Ix prêmio marc ferrez de fotografia da fundação nacional de arte-rj l996. Prêmio iii concurso nacional de fotografia de suzano – sp 1992. Menção honrosa no v salão municipal de artes plásticas da paraíba l99l.

Com participação em salões e festivais nacionais e internacionais – seu trabalho integra importantes acervos e coleções de museus, instituições, universidades, fundações e galerias da argentina, áustria, brasil e frança.

Há mais de 13 anos vêm ministrando oficinas, cursos, workshops e realizando palestras pelo brasil. Como arte-educador presta serviços para universidade federal da paraíba; núcleo de arte contemporanea; universidade nacional de brasília, universidade estadual da paraíba; serviço social do comércio da paraíba, serviço social do comércio do ceará, serviço social do comércio do mato grosso; senac-pb; prefeitura municipal de joão pessoa (fundação cultural, secretaria do meio ambiente, secretaria de educação e cultura, secretaria do desenvolvimento social, secretaria de saúde); prefeitura municipal do recife (museu da cidade do recife), prefeitura municipal de serra branca, prefeitura municipal do juazeiro do norte; museu da imaginação; centro federal de educação tecnológica da paraíba; associação das profissionais do sexo da paraíba; governo do estado da paraíba (fundação espaço cultural subsecretaria de cultura do estado, secretaria de educação e cultura do governo do estado); sindicato dos jornalistas profissionais do estado da paraíba (l996-2009).

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janeiro 19, 2010 at 2:38 am

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Ver-te Belém Histórica

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Belém está completando 394 anos de fundação, e a Fotoativa convida àqueles que gostam de fotografar para uma jornada de busca por uma cidade oculta pelo tempo. O primeiro bairro de Belém permaneceu isolado por muito tempo em virtude do pântano do Piri, imensa área alagada que protegia os primeiros moradores dos ataques dos índios da parte continental.

O crescimento da cidade fez com que novos aparelhos urbanos fossem criados – igrejas, largos, prédios públicos – mas foi no período pombalino que as dimensões da cidade começaram a ganhar novos contornos. E é justamente nesses novos contornos que a jornada Ver-te Belém Histórica se propõe a trilhar um caminho exercitando os sentidos e sentimentos para a imaginação e descobertas.  Onde era o Piri? Rua da Cadeia? Onde o bairro da Campina terminava?

“Fazer as pessoas caminharem pela sua cidade, saberem um pouco da sua história tem vários objetivos, penso que falar do enorme patrimônio material é um deles. Assim, desenvolvemos uma educação cidadã”, diz o professor de História e atual presidente da Fotoativa, Michel Pinho.

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O evento Ver-te-Belém Histórica faz parte das ações do Largo Cultural das Merces, projeto selecionado pelo Edital de Artes Visuais 2009 da FUNARTE, com a parceria da Fundação Athos Bulcão.

Informações:

fones: 3225-2754

a.fotoativa@gmail.com
http://www.fotoativa.blogger.com.br

http://www.fotoativa.org.br/

Written by artecriticapara

janeiro 19, 2010 at 2:33 am

Publicado em Informes